A primeira revolução chegou em dezembro de 2007, quando começaram as transmissões digitais da TV aberta em São Paulo. Mas, nesse caso, a promessa de ruptura acabou se mostrando continuidade. Recursos avançados da tecnologia, como a multiprogramação (com a transmissão de vários programas ao mesmo tempo em um só canal) e a interatividade (com a oferta de serviços parecidos com a internet na tela de TV), acabaram ficando na promessa.
Desta vez é diferente. Discretamente, começou a segunda revolução digital da TV no Brasil. O televisor ligado à banda larga permite assistir ao que quiser, na hora em que quiser. Ele acaba com a grade de programação, com a locadora e com os discos de DVD e Blu-ray. Os principais fabricantes já colocaram no mercado brasileiro modelos de TV conectada.
Semana passada, nos Estados Unidos, foi a leilão a Blockbuster, maior rede de locadoras do mundo, em processo de falência. Muitos analistas apontaram a Netflix – com seu modelo de locação que permite assistir a filmes digitais da internet diretamente na TV – como a culpada pela morte da Blockbuster.
Enquanto a Netflix não chega ao Brasil, empresas como NetMovies, Saraiva e Terra operam serviços semelhantes. A Telefônica oferece vídeo sob demanda para seus clientes de fibra óptica e a Net promete lançar essa opção ainda este mês.
Vigias. Há duas semanas, o Terra fez um evento na Bahia, durante cinco dias, reunindo representantes da empresa de 18 países. À noite, quatro seguranças tomavam conta dos equipamentos do evento. Durante as cinco noites, os vigias gastaram, na locadora virtual, cerca de R$ 400 dos R$ 600 em créditos que haviam sido colocados nos televisores conectados. “Considerei um sinal de sucesso do produto”, disse Pedro Rolla, diretor de mídia do Terra. “Nem tivemos de explicar como funcionava.”
O serviço Video Store do Terra está disponível nas TVs conectadas da LG há três meses. A expectativa é estar em mais duas marcas até junho. Apesar de o conteúdo vir pela internet, o espectador não o vê num navegador. Ele precisa clicar em ícones de aplicativos nas telas de TV para ter acesso aos serviços. Os donos do conteúdo têm de fechar acordos com cada fabricante.
A loja virtual oferece três opções: os espectadores podem comprar filmes no formato digital, baixando-os para o televisor; alugar o conteúdo; ou participar de um videoclube, em que pagam uma mensalidade para ter acesso livre a uma biblioteca de vídeos.
A loja virtual tem pouco mais de 3 mil títulos, incluindo episódios de séries. O objetivo é chegar a 10 mil até o fim do ano. Os lançamentos estão disponíveis somente para locação ou venda. Toy Story 3, por exemplo, custa R$ 4,90 para a locação de 48 horas ou R$ 19,90 para a compra. No videoclube, que tem mensalidade de R$ 19,90, dá para assistir, quantas vezes quiser, aos anteriores, Toy Story e Toy Story 2, entre outros títulos. O Terra tem acordos com a Disney e a Warner, e negocia com outros grandes estúdios.
Mercado. A base de televisores conectados ainda é pequena no Brasil. Segundo algumas estimativas, foram vendidas pouco mais de 100 mil unidades no País até agora, incluindo todas as marcas. Além dos televisores, os serviços de TV conectada também estão disponíveis em leitores de Blu-ray e em consoles de videogame.
Assim como a Video Store do Terra, a Saraiva Digital está disponível nos televisores da LG. Pelo serviço, é possível comprar ou alugar filmes. A NetMovies está nos aparelhos da LG e da Samsung e, até o fim do ano, espera ampliar sua presença para pelo menos cinco fabricantes. Por enquanto, o formato é de assinatura, a R$ 9,90 mensais, mas o aluguel avulso de filmes digitais será lançado ainda este mês. “Estaremos em consoles de videogame também”, disse Daniel Topel, presidente da NetMovies.
Houve muitas tentativas anteriores de ligar a televisão à internet. Lançada em 1995, a WebTV, que usava conexão discada, foi um fracasso. Outros modelos, em que o consumidor precisava comprar um equipamento especial para ligar à TV, também não deram certo.
Mas agora, finalmente, a tecnologia está pronta. “A TV conectada está chegando com velocidade”, afirmou Hugo Marques, consultor de engenharia da Cisco Brasil.
Fibra óptica, amiga do vídeo
11 de abril de 2011 | 0h 00
Renato Cruz – O Estado de S.Paulo
Um obstáculo à segunda revolução digital da TV é a banda larga ruim que existe no Brasil. Os fabricantes de aparelhos conectados recomendam acessos de pelo menos 2 megabits por segundo (Mbps) para que o serviço funcione direito. O desenvolvimento do acesso por fibra óptica, que chega atualmente a 100 Mbps, deve resolver esse problema.
A Telefônica começou seu projeto de fibra em 2008, mas ainda são poucos clientes conectados. Em março, eram 16 mil. “Estamos conseguindo 3 mil, 4 mil clientes por mês”, disse André Kriger, diretor serviços de fibra da Telefônica. O objetivo é atingir 1 milhão até 2015.
A velocidade oferecida está entre 30 Mbps e 100 Mbps. “Até o fim do ano, teremos 150 Mbps e 300 Mbps”, afirma Kriger. “Com a mesma tecnologia que já utilizamos, poderíamos chegar a 1 Gbps simétrico.” Um gigabit por segundo (Gbps) corresponde a 1 mil Mbps, e seria simétrico porque teria a mesma velocidade para receber e enviar conteúdo.
O serviço de TV paga oferecido pela Telefônica para seus clientes de fibra inclui uma locadora virtual de 2 mil títulos.
A Net não leva a fibra até a casa do usuário, mas, para oferecer velocidades maiores, está trazendo a parte óptica de sua rede para cada vez mais perto. A empresa também vende acessos de 100 Mbps.
Segundo o diretor de produtos e serviços da Net, Márcio Carvalho, antigamente a rede da empresa tinha 4 mil clientes atendidos por um segmento de fibra. Atualmente, 60% desses segmentos abrigam no máximo 500 assinantes. “Estamos em vias de lançar conteúdo sob demanda.”
A operadora GVT, que prepara sua entrada em São Paulo, usa conexões de fibra para acessos com velocidade de 50 Mbps ou 100 Mbps. A Oi opera comercialmente o serviço via fibra no Recife, com até 100 Mbps.
Enquanto a oferta da Oi é limitada, a da Portugal Telecom (PT), em seu país de origem, é referência internacional. Agora no grupo de controle da Oi, a PT acabou de receber um prêmio do FTTH Council Europe, uma associação de fabricantes e operadores de acesso por fibra. A operadora portuguesa têm 150 mil clientes em fibra.
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