Em um momento em que todo mundo pode ser gerador de mídia ou comentar qualquer assunto na internet, o filósofo suíço Alain de Botton, autor de livros como Religião para Ateus, defende que é preciso colocar diferentes conteúdos sob perspectivas diversas. Os comentários em blogs e redes sociais, por exemplo, não devem ganhar a mesma importância de reportagens e artigos. É justamente o caminho contrário do que defendem veículos de comunicação como o Huffington Post, que querem colocar o conteúdo e a “reação social” em pé de igualdade.
Botton, que esteve no Cannes Lions Festival Internacional de Criatividade analisando a publicidade e a comunicação, afirma que os comentários na internet despertam, de certa forma, o que há de pior no ser humano.
“Eu acho que prestar atenção a tudo o que se diz nas mídias sociais é um erro. Oitenta por cento do que se diz somente revela as nossas piores neuroses. Não leva a nada, é inútil e não merece receber a mesma importância de um artigo escrito com cuidado”, disse.
Ele vê a intenção das empresas de usar as redes sociais como uma fonte inquestionável de pesquisa como um sinal de preguiça. “Se um produto teve 500 comentários negativos, isso não quer dizer que não exista 1 milhão de pessoas que não estejam felizes com o produto, mas de forma quieta”, argumenta. “É uma forma de conseguir um feedback que é, na maioria das vezes, pouco confiável.”
No entanto, ferramentas como o Twitter e o Facebook podem ser mais úteis quando o assunto é a qualidade dos produtos. Embora seja difícil de acreditar na tendência de uma publicidade mais honesta, o filósofo afirma que as empresas terão necessariamente de se tornar mais atentas ao que é dito sobre elas. “O produto terá de ser necessariamente melhor, porque as pessoas vão reclamar caso o carro que elas comprarem tenha quebrado ou a viagem tenha sido um desastre”, afirma. O estopim da mudança é econômico: avaliações negativas afetam, necessariamente, as vendas.
Com 230 mil seguidores no Twitter, Botton diz estar interessado em quem usa as redes sociais de forma diferente, para espalhar mensagens que são fora do usual.
Fonte:O Estado de S.Paulo -Economia & Negócios