“O problema da mídia no mundo inteiro é esse monopólio de algumas empresas que veiculam a visão dominante. Elas são a classe dominante. Nos anos 50 e 60 na Europa, por exemplo, você tinha uma mídia diversificada que expressava as posições políticas distintas. As pessoas liam o ‘Avanti!’, o ‘La Unità’… Havia debate político. Hoje você não tem debate. O que você tem é uma farsa”.
A constatação é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo e foi apresentada durante o debate ‘Neoliberalismo, um colapso inconcluso’, promovido pela Carta Maior. Acompanhe, a seguir, a íntegra do discurso de Belluzzo.
Ideias dominantes
“O consenso em torno de certas ideias de dominância financeira – ideias que estão na origem da atual crise – não seria possível sem a sua vocalização pela mídia.
Não se trata de uma teoria conspiratória, estou dizendo que isso se deu através de um processo social em que as camadas dominantes impõem as ideias dominantes. A gente nunca pode perder essa dimensão da luta social; como ela se desenvolve e como maneja os símbolos, os significados, as palavras.
Tome o exemplo da queda da taxa de juros brasileira. Isso produziu em certas pessoas (da mídia) uma estupefação; em algumas mais estupefação, em outras alguma indignação. As que ficaram mais estupefactas sempre ouviram o contrário, que era um perigo, era a ruína. As ideias, como dizia um autor do século XIX, tem uma força material enorme – a força material das idéias dominantes.
Wall Street no comando
Norberto Elias, o sociólogo, dizia que é muito difícil você desconstruir um consenso como este. Daí o papel crucial da luta social e política. Ou você acha que a crise vai se resolver mecanicamente, por ela mesma? Não vai. É necessário formular alternativas.
A solução dita ‘normal’ é previsível, diz o economista americano Doug Henwood, que tem uma newsletter de nome muito interessante, ‘Left Business Observer’. Henwood foi encarregado de escrever sobre Wall Street, antes e depois da crise. É muito fácil, asseverou. Antes da crise, Wall Street era o lócus mais poderoso de interesses políticos, econômicos e sociais dos EUA. Depois da crise, Wall Street continua sendo o locus mais poderoso de interesses políticos, econômicos e sociais dos EUA.
Emprenhados pelo ouvido
Um repórter que te entrevista sobre política monetária e ouve algo contrário a esses interesses, daqui e de lá, hesita em publicar; se publica o faz cheio de ressalvas. Esse jornalista foi emprenhado pelo ouvido, durante anos, para perguntar e ouvir sempre a mesma coisa.
O problema da mídia no mundo inteiro é esse monopólio de algumas empresas que veiculam a visão dominante. Elas são a classe dominante. Nos anos 50 e 60 na Europa, por exemplo, você tinha uma mídia diversificada que expressava as posições políticas distintas. As pessoas liam o ‘Avanti!’, o ‘La Unità’… Havia debate político. Hoje você não tem debate. O que você tem é uma farsa”.
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