Valor Econômico -Eu & Estilo
01/04/2014 às 05h00
Por Gustavo Brigatto e João Luiz Rosa | De São Paulo
No mundo da tecnologia, algumas siglas “pegam”, outras não. O 3D conseguiu atrair mais gente às salas de cinema, mas não obteve o mesmo sucesso na sala de estar. A maioria dos consumidores não viu graça em ter de usar óculos especiais dentro de casa só para ver objetos saltando da tela em sua direção. É bem diferente do 4K. Por uma série de razões, vale a pena prestar atenção nessa sigla.
Conhecido também como UltraHD, 4K é o nome dado à tecnologia que permite ver televisão com uma resolução quatro vezes maior que a dos aparelhos Full HD, a melhor qualidade de imagem disponível até então. Tecnicamente falando, isso é possível porque a imagem em 4K é composta de mais pixels, os pontos eletrônicos que formam o que se vê na tela. São oito milhões de pixels versus 2 milhões do Full HD.
O padrão começou a aparecer em 2012, mas de forma restrita. A maior parte dos aparelhos, apresentados em exposições internacionais, eram apenas protótipos. No fim daquele ano, e ao longo de 2013, os primeiros produtos comerciais chegaram às lojas. Agora, a expectativa é que mais fornecedores ampliem a oferta.
Uma questão essencial é o preço. Quase tudo no universo dos dispositivos digitais segue uma regra: quando estreiam no mercado, são tão caros que só podem ser consumidos por uma fatia minúscula do público. Cria-se a sensação do sonho de consumo. Rapidamente, porém, os custos diminuem à medida que a escala de vendas aumenta. Além de os produtos de primeira linha ficarem mais baratos, é comum surgirem equipamentos mais acessíveis, de marcas pouco conhecidas, para atender a outras fatias de público.
Ainda se está longe de uma popularização das TVs 4K, mas há um número crescente de modelos mais acessíveis. Os primeiros aparelhos, com telas superiores a 80 polegadas, chegaram ao Brasil há quase um ano e meio custando entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. Telas desse tamanho continuam na mesma faixa de preço, mas os fabricantes passaram a oferecer aparelhos menores, com valores mais atrativos.
Um modelo de 55 polegadas da coreana LG está disponível no país a R$ 8 mil. A japonesa Sony oferece um aparelho de 65 polegadas por R$ 15 mil. Ou seja, dá para começar a pensar seriamente no assunto. A expectativa é que os preços fiquem ainda mais atraentes à medida que mais produtos cheguem ao mercado. A LG, por exemplo, tem planos de trazer um televisor 4K de 49 polegadas nos próximos meses, a preços mais baixos.
Outro fator que interessa diretamente ao consumidor é que a tecnologia 4K ajuda a resolver um problema que se tornou comum, principalmente nos grandes centros urbanos. É o dilema de quem sonha em ter um cinema iMax completo dentro de casa, mas só tem espaço suficiente para a bilheteria.
Com o preço em queda das telas Full HD, muitos consumidores passaram a comprar a maior tela que cabia no bolso, independentemente do tamanho da sala de estar. O resultado é que muita gente, agora, está assistindo à TV com o mesmo desconforto de quem se senta na primeira fila do cinema. A imagem fica desproporcional à distância indicada para a melhor experiência.
Como as TVs 4K têm mais pixels, o espectador não precisa ficar muito longe do aparelho. Ou seja, dá para usar telas maiores em espaços reduzidos. Para comparar, a distância mínima recomendada para uma tela Full HD de 55 polegadas é de três metros. A mesma tela 4K exige 2,5 metros. Com os preços dos imóveis nas alturas, meio metro faz diferença.
O padrão também segue o caminho da mobilidade – outro estímulo à sua adoção. Até meados do ano, a Sony planeja lançar o Xperia Z2, um smartphone com capacidade para filmar em 4K. Isso é importante, à medida que mais pessoas passam parte de seu tempo assistindo a vídeos próprios ou feitos por amigos e parentes. Para ver as produções domésticas, no entanto, é preciso ter uma TV ou um monitor 4K. De outro jeito, o consumidor verá o vídeo na resolução máxima do equipamento que tiver em casa.
A Asus, de Taiwan, anunciou em janeiro, na CES – a feira de tecnologia que ocorre todos os anos em Las Vegas – um monitor de 28 polegadas, preparado para o 4K, que chegará às lojas americanas ao preço de US$ 799. Não é uma pechincha, mas é bem mais acessível que os US$ 3,5 mil cobrados pelos monitores 4K de 31 polegadas que são vendidos atualmente. Para usar o monitor 4K ligado ao computador, o consumidor precisa comprar e instalar uma placa de vídeo compatível no PC.
Para os fabricantes, o 4K é estratégico porque oferece atrativos ao consumidor em um mercado no qual é difícil se diferenciar. Fornecedores de smartphones, tablets e notebooks podem usar recursos como design, cores e formatos diferentes para atrair a atenção do público. Uma TV, por mais criativos que sejam os engenheiros de produto, é sempre a mesma coisa: uma tela plana com algum tipo de suporte. E olha que muita gente prefere pendurar a TV na parede.
O 3D não teve o resultado esperado pelos fabricantes. As pessoas estão levando aparelhos 3D para casa, mas esse não é o principal motivo da aquisição. O mesmo acontece com a chamada SmarTV, que dá acesso à internet. Muita gente que trocou recentemente de aparelho nem sabe que sua TV conta com esse recurso.
As telas pequenas, que poderiam ser uma alternativa para vender a consumidores de renda mais baixa ou que têm demandas específicas – como a segunda TV no quarto – estão desaparecendo porque o custo de produção é semelhante ao das TVs maiores. Os fornecedores ficam todos restritos às telas grandes, com um grau de competição que ameaça ferir as margens de lucro no decorrer do tempo.
A migração para o 4K pode ajudar a manter a lucratividade e criar uma transição relativamente tranquila para padrões técnicos ainda mais avançados. Os grandes fabricantes começam a se movimentar em torno do 8K, que terá uma definição 16 vezes melhor que o Full HD. Alguns protótipos já foram apresentados no exterior e no Japão estão sendo feitos testes de produção de conteúdo para o 8K. Parece cedo demais, mas os fabricantes querem garantir que a roda da inovação continue a girar.