Especialistas apresentam, na revista Nature, tecnologia de imagens tridimensionais que dispensam o uso de óculos e lembram as geradas por R2-D2 em Guerra nas Estrelas
No filme Guerra nas Estrelas, o robô R2-D2 surpreende Luke Skywalker com uma mensagem de socorro enviada pela princesa Leia, que aparece em forma de um vídeo holográfico de aparência fantasmagórica. Essa cena pode ter ocorrido há muito tempo em uma galáxia distante fictícia, mas a ideia dá os primeiros passos para se tornar realidade no mundo real. Uma nova tecnologia criada pela HP produz imagens coloridas de objetos que podem ser vistos de diversos ângulos, numa ilusão de volume que dispensa o uso de óculos. A técnica, que pode resultar em dispositivos móveis transparentes com telas em 3D, foi descrita ontem na revista Nature.
O projeto começa com uma luz traseira uniforme similar à usada nas telas de LED comuns. O segredo é que a luz emitida pelos diodos laterais nas cores verde, vermelha e azul passa por um guia que direciona a imagem. Numa televisão, o sinal luminoso é enviado para todas as direções. Mas, nesse dispositivo, os pixels referentes aos diversos ângulos de visão de um mesmo objeto precisam ser enviados separadamente para cada olho do espectador. Quando cada olho vê parte do vídeo separadamente, o cérebro cria a ilusão tridimensonal e percebe a imagem um centímetro além da tela, ou um centímetro sobre ela.
Nas tevês e telas de cinema, a ilusão é criada por meio de óculos, que fazem o trabalho de direcionar cada parcela da imagem para um lado da visão (veja arte). Já no novo display, o acessório não é necessário. “É um sistema autoestereoscópico, o que significa que não precisa de óculos para dar a impressão de 3D. Os olhos esquerdo e direito sempre verão uma imagem diferente”, explica David Fattal, um dos pesquisadores responsáveis pela invenção.
Outra vantagem do novo protótipo é que pessoas em posições diferentes nunca verão a mesma imagem na tela dimensional. “Se mover a cabeça ou o display, o usuário vai perceber uma sucessão de imagens diferentes, então ele terá a ilusão de movimento paralax contínuo”, assegura Fattal. Isso significa que, se a tela mostrar uma representação do planeta, por exemplo, seria possível girar o dispositivo para ver diferentes países, como num modelo de globo. A situação é bem diferente das telas em três dimensões existentes hoje, como a do videogame Nintendo 3DS, no qual, se o jogador vira o dispositivo, a ilusão acaba e a imagem é prejudicada.
Os raios RGB direcionados pela tela 3D passam por minúsculas matrizes de difração, em que as matizes primárias se dividem nas cores reais da imagem, como a luz branca formando um arco-íris em um prisma. O resultado é um efeito holográfico translúcido, que parece formado por grãos coloridos de areia que flutuam no espaço. Na demonstração feita pelo grupo, é possível ver uma tartaruga colorida de frente ou de lado, conforme o dispositivo é girado. Uma pessoa que estiver segurando a tela transparente também poderá ver seus dedos por trás do objeto projetado.
Protótipo
A invenção ainda está na fase de pesquisa, mas os criadores da pequena tela 3D adiantam que a tecnologia foi desenvolvida especialmente para dispositivos móveis. A resolução dos pixels direcionados ainda não é suficiente para a implementação em uma televisão. Outro problema seria o custo estimado para construir pontos de luz com a potência necessária para projetar várias imagens ao mesmo tempo. A luz de fundo usada hoje em tablets, por exemplo, já representa quase 30% do custo do display, a parte mais cara do equipamento.
“Para produzir feixes direcionais, (o sistema) deve ter vários projetores. Isto é, teriam que ser gerados vários pares de imagens direita e esquerda, e deveria haver também uma tela com lentes para que essas imagens fossem vistas pelos olhos direito e esquerdo. É bem mais complicado em termos de custo, e o sistema não pode ser muito compacto”, ressalta o professor José Henrique Vuolo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).
Uma das formas de diminuir os custos da tela móvel em três dimensões seria investir em soluções de fabricação, como a eliminação do filtro de cor geralmente usado em displays móveis do projeto, e a escolha de novos métodos de produção. “A empresa tem experiência, e já fala em usar o processo de impressão de alta resolução para fazer as grades de difração. Isso seria um avanço, e bem mais barato que usar o processo litográfico de fabricação de circuitos”, avalia Alaide Pellegrini Mammana, diretora do Capítulo Latino-Americano da Society for Information Display (SID).
Mesmo em fase inicial, a tecnologia já pode ser aplicada em gadgets transparentes. Alguns usos possíveis estão na área de geração de gráficos, modelos interativos e tecnologia de visualização médica e científica. “Talvez uma tecnologia como essa possa ser usada em um curto prazo para propósitos decorativos, como sinalizações de baixo custo. Talvez, num futuro não tão distante, possa chegar a smart-phones, smartwatches, tablets e jogos e entretenimento ”, enumera Raymond Beausoleil, diretor de pesquisa fotônica dos laboratórios HP. O representante já adiantou, no entanto, que a empresa ainda não tem recursos suficientes para investir na invenção em uma aplicação prática.
FONTE:Correio Braziliense -Tecnologia