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A revolução da televisão brasileira

Chagas Vieira

O Brasil está às vésperas de uma verdadeira revolução no campo das comunicações. Já no final deste ano entra em operação, em São Paulo, o sistema digital de TV que, num prazo previsto de dez anos, substituirá, de maneira progressiva, o atual modelo analógico. Mais que uma melhoria substancial na qualidade da imagem que chega hoje às nossas casas através da telinha, a nova tecnologia traz consigo a possibilidade real de que se estabeleça, de forma concreta, a democratização da informação no País.

Apesar do avanço da Internet e do desenvolvimento de alguns programas de inclusão digital pelo Brasil, nossa população, em sua esmagadora maioria, é extremamente carente no tocante ao acesso à informação. De acordo com os últimos levantamentos, pouco mais de 10% têm contato com a grande rede. Enquanto isso, mais de noventa por cento dos lares brasileiros contam com televisão. Tão bom seria se nossa TV fosse mais informativa, mais educativa, mais democrática, mais interativa, características mais fáceis de serem encontradas na Internet. E se pudéssemos juntar as duas tecnologias (TV e Internet) num só modelo? Entretenimento, informação, educação, cultura, pesquisa num só aparelho, e com qualidade de imagem e vídeo muito melhor que a atual. Sonho? Não, a mais pura realidade. É justamente essa a TV digital que está prestes a chegar ao Brasil.

Após anos de discussão, o governo brasileiro definiu através do decreto 5.820, de 29 de junho de 2006, que iríamos adotar, já a partir deste ano, o modelo japonês de TV digital (ISDB-T). “Coisa de primeiro mundo”, diriam alguns. Sim, o modelo japonês é mesmo coisa de primeiro mundo, mas não chega aqui absoluto, intocável, inquestionável… Na verdade, a TV digital brasileira não vai simplesmente adotar o modelo nipônico; vai ter a característica especial de mesclar a tecnologia dos japoneses com a inteligência da nossa terrinha. Será uma espécie de modelo híbrido. Sabe como funciona a Embraer? Uma das maiores fabricantes de aviões do mundo, brasileira com orgulho, que soube usar bem essa complementação de tecnologias; peças deles, montagem e desenvolvimento nossos. Deu certo com a Embraer e deve dar certo com a nossa TV digital.

Durante meses professores, estudantes, técnicos nacionais estiveram imbuídos no propósito de desenvolver uma tecnologia brasileira que complementasse, e melhorasse, o modelo de TV que seria adotado pelo País. Desses estudos surgiu um middleware – denominado Ginga – que representa uma espécie de coração da TV digital, responsável pela aplicação dos conteúdos.

Quer dizer, os japoneses nos dão o campo e nós entramos com os jogadores. E é nesse jogo que o governo quer entrar, montando uma TV não só com imagem de qualidade, mas de conteúdo que, verdadeiramente, dê à população a possibilidade de se inserir no mundo da informação; a inclusão digital e social de fato e de direito. Ainda mais, com middleware nacional, teremos uma TV digital com um investimento menor de recursos públicos, além da possibilidade de vantagens econômicas com a exportação de nossa tecnologia para outros países, principalmente da América do Sul, que estejam em processo de implantação do novo modelo de TV.

Já pensou, o cidadão assistindo a TV em casa, dando opinião através do controle remoto, gravando o programa que quer, deletando o que deseja, como se estivesse diante de um computador? Mas é exatamente isso: nossa televisão vai virar computador. Acabou a palavra telespectador; seremos usuários, interagindo de verdade, comunicando-se de verdade. Essa deve ser a TV digital brasileira.

Parece mentira, mas faltam menos de sete meses para essa revolução começar a acontecer. A população, mais uma vez, é a última a ser informada. Duvido que pelo menos metade dos que estejam lendo este artigo tenham dimensão dessa realidade. É preciso, portanto, que a discussão em torno da TV digital seja urgentemente ampliada. Em dezembro o modelo começa a ser implantado em São Paulo. Ano que vem chega ao Ceará. Depois da definição do modelo híbrido nipo-brasileiro, busca-se agora detalhes de como será o conteúdo, a distribuição de canais – onde hoje temos um canal, deveremos ter quatro programações – e, principalmente, como o novo modelo servirá para a democratização da informação. Caso não estejamos preparados para explorar os potenciais da nova mídia, não teremos avanços além da melhoria da qualidade de som e imagem. Que a beleza do discurso dê espaço a uma realidade muito melhor que a que temos. Chega da televisão que só serve para exibir filmes, jogos, novelas e de uma interatividade que não vai além da eliminação de participantes de reality shows!

Chagas Vieira – diretor de Jornalismo TV Jangadeiro

DESTAQUE SERTESP - 23/05/2024

COMUNICADO A TODAS AS EMISSORAS DE RÁDIO, TELEVISÃO E PRODUTORAS

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