O encontro da presidenta Dilma Rousseff com o presidente norte-americano Barack Obama em Washington na terça-feira, 30, serviu não apenas para selar as pazes após o desconforto com o episódio de espionagem revelado pelo ex-colaborador da agência de segurança americana (NSA), Edward Snowden. Maior prova de que o episódio ficou no passado é que os países irão colaborar justamente na área digital. A visita da líder brasileira resultou em um comunicado conjunto no qual se comprometem com o modelo multissetorial para a governança da Internet, incluindo a colaboração em assuntos como cibersegurança.
“A cooperação bilateral em assuntos cibernéticos será retomada com a convocação do segundo encontro do grupo de trabalho do Internet and Information and Communications Technology, que acontece em Brasília no segundo semestre”, afirma o comunicado conjunto. Será a oportunidade para os governos trocarem experiências e explorarem colaborações em áreas consideradas mais importantes, como “e-gov, economia digital, cibersegurança, prevenção ao cibercrime, atividades de construção de capacitação, segurança internacional no ciberespaço e em pesquisa, desenvolvimento e inovação”.
Modelo de governança
Segundo o comunicado, os EUA e o Brasil têm comum entendimento também de que “a governança de Internet precisa ser transparente e inclusiva, garantindo total participação de governos, sociedade civil, setor privado e organizações internacionais para que o potencial da Internet como uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento social e econômico seja preenchido”. A posição toma como base os princípios da Carta de São Paulo, documento resultante do evento NetMundial realizado na capital paulista em abril do ano passado.
Além disso, reafirmam a aderência com o modelo multistakeholder e o “comprometimento em cooperar para o sucesso” do 10º Internet Governance Forum (IGF), que acontece em João Pessoa entre 10 e 13 de novembro. Dilma e Obama também reafirmam o interesse em participar “ativamente no processo preparatório” do encontro de alta cúpula da assembleia geral das Nações Unidas para a revisão dos resultados da World Summit on the Information Society (WSIS) em Nova York, em dezembro.
Bandeira branca
Vale lembrar que a retomada dos diálogos e trabalhos de cooperação digital entre os dois países acontece quase dois anos depois das denúncias de Snowden. Em setembro de 2013, a presidenta Dilma abriu a 68ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, com um discurso no qual dizia sentir “indignação e repúdio” com a prática de espionagem. Segundo o ex-agente da NSA, o governo norte-americano espionou e-mail e celular da líder brasileira. O episódio motivou não apenas o cancelamento de uma visita de estado à Casa Branca em 2014, mas inclusive a própria criação do NetMundial, que terminou com um vários aspectos relacionados à cibersegurança abrandados não apenas pelos stakeholders americanos, mas também europeus e do setor privado.