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Publicado em Quinta, 12 Março 2015 12:17
Escrito por Abraji*
Se você é um jornalista interessado em usar um drone para fazer vídeos e fotos para sua reportagem, como fotos aéreas de um protesto ou desastre natural, Matt Waite, fundador do Drone Journalism Lab, tem duas dicas principais para você: tenha cuidado e seja inteligente.
Como a tecnologia de drone – ou veículo aéreo não tripulado, UAV – ainda é bastante recente em todo o mundo, Matt, que também é professor de jornalismo na Universidade de Nebraska-Lincoln, diz que é um momento especialmente delicado para o seu uso. Enquanto legisladores descobrem como regular os drones, os jornalistas devem ser cautelosos.
“Nós sabemos que há um uso positivo e legítimo para eles”, disse Tom à IJNet. “A questão é realmente saber como gerenciar os aspectos de segurança, e ter certeza que nós não estamos violando a privacidade desenfreadamente. Como podemos ter certeza de que as pessoas estão pilotando-os com segurança? Qualquer coisa que der errado agora tem o potencial de atrasar as coisas em anos e anos para todos nós.”
Organizações como o Drone Journalism Lab e a Professional Society of Drone Journalists estão trabalhando para promover o uso seguro e responsável dos drones. Eles estão enfrentando um quadro regulamentar cauteloso em muitas partes do mundo.
Tom diz que o mundo, agora, pode ser divididos em três grupos de países quando se trata do uso de drones:
1) Os Estados Unidos estão sozinhos na mentalidade de banir tudo. A partir de agora, há uma aplicação limitada para uso de drones em notícias nos EUA, apesar de que isso pode estar mudando.
2) O próximo grupo de países têm regras para uso comercial de UAVs, e definem o jornalismo como uso comercial. Este grupo inclui o Reino Unido, Austrália, Japão e uma boa parte da união europeia.
3) O último grupo de países são praticamente não regulamentados. E há um monte deles.
“Com essas grandes diferenças entre os países, é difícil elaborar um conjunto global de melhores práticas”, diz Matt. “Mas há um conjunto emergente de ideias.” Ele diz que é importante, em primeiro lugar, os jornalistas lidarem com ideias locais sobre privacidade e liberdade de imprensa.
“Cada país e região tem suas próprias ideias de privacidade e propriedade, e do que é considerado aceitável e ou não”, diz Matt. “E cada país e região também tem sua própria relação com o governo. Quando você coloca um robô voador no céu, vai ter uma reação diferente das pessoas dependendo de onde são.”
Matt ainda diz que ouve de muitas pessoas animadas com o uso de drones, a possibilidade de cobrir grandes protestos. Mas a “última coisa que você quer fazer”, diz ele, “é voar sobre uma multidão densa. Se algo der errado, não há lugar para o seu dispositivo cair sem ferir alguém. E se sua única opção é ferir alguém em uma situação de emergência, isso não é um bom uso do drone.”
Outro exemplo que ele ouve, muitas vezes, é o de usar um drone na Síria para mostrar o tamanho dos campos de refugiados. “Isso seria uma utilização incrível”, diz Matt. “O problema é que se você já tem um grupo de pessoas que estão traumatizadas, elas podem ficar muito assustadas ao ver um robô voador com uma câmera. Você poderia causar um pânico em massa desse jeito.”
Em resumo: operar um drone é um ato de provocação. Provavelmente vai deixar as pessoas assustadas até que se acostumem com eles em sua volta. Pode parecer óbvio, mas é muito importante ter a certeza de saber como pilotar corretamente o equipamento. Aprender a voar em espaços abertos e ambientes simples, como por exemplo áreas de agricultura ou rurais, pode ser aprendido rapidamente, diz Matt, levando cerca de um ou dois dias. A questão nesse caso é principalmente se acostumar com os controles, a orientação espacial e o gerenciamento de bateria.
Mas no minuto em que você introduz árvores, fios elétricos, estradas com tráfego, edifícios e qualquer tipo de ambiente urbano, tem que ter mais cuidado. “Se você é o piloto em comando, é responsável pela segurança de todos em torno de você”, diz ele. “Se não está preparado para assumir essa responsabilidade, não tem nada que usar desse dispositivo.”
O fotojornalista Eric Seals, da Detroit Free Press, disse ao Poynter que é preciso “um mês inteiro, até dois meses” para ter a habilidade de operar um drone. “Você tem que desenvolver uma lista de verificação mental para conferir o equipamento, ter certeza que está abaixo de 400 pés e não muito perto de um aeroporto. Tem que saber sobre as condições de vento. Ele não é um brinquedo, e as pessoas que ganharam um drone no Natal têm que saber disso. Várias pessoas que ganharam e começaram a usar os drones sem qualquer prática, descobrem que a aeronave voa e desaparece de vista. Se você não calibrar o avião, pode perdê-lo em vôo e nunca mais vê-lo.”
A Professional Society of Drone Journalists também adotou um código de ética que diz que os operadores de drones devem agir de acordo com os códigos de ética do jornalismo tradicional, incluindo o Código de Ética da Society of Professional Journalists. Mas há outras questões éticas adicionais envolvidas com a fotografia de drone, ligadas à noticiabilidade, segurança, santidade da lei e dos espaços públicos e privacidade.
“Há uma parte significativa de mim que está realmente animado com isso, porque é legal”, diz Matt. “Operar robôs com câmeras é simplesmente fantástico.” Mas ele explica que modera essa animação com a realidade da tecnologia – que as pessoas ficam incomodadas com os drones, e que eles introduzem riscos de segurança e preocupação com a privacidade.
“Estou aterrorizado com a ideia de alguém saindo por aí e fazendo algo estúpido com um drone”, diz ele. “Uma pessoa pode cometer um erro e acabar com o nosso trabalho. Fique de olho.”
*Texto publicado originalmente no site da Abraji.