O segundo dia do Congresso ABTA 2012 —parte da principal feira do mercado de TV por assinatura do Brasil, realizada pela ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura) e organizada pela Converge Comunicações — foi aberto com a apresentação do presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema), Manoel Rangel, sob o tema “O crescimento do mercado de TV paga e os desafios para a televisão brasileira”.
Nela, o executivo expôs a atual situação do setor por assinatura e falou sobre a Lei 12485, aprovada no final de 2011, e sobre as perspectivas do órgão sobre o mercado e os impactos que e lei deverão ter sobre ele. “Em 2008, as receitas com assinaturas ultrapassaram as verbas publicitárias como principal financiamento da TV no mundo. Em 2014, deverão ser 15% superiores. Isso implica em uma passagem de foco, com a prioridade dos negócios migrando da publicidade para o consumidor — e, por consequência, um investimento ainda maior em qualidade, vídeo on demand, entre outros aspectos”, afirmou.
Em relação ao Brasil, Rangel lembra que as receitas de publicidade ainda são maiores (apesar da TV por assinatura já possuir um faturamento superior à aberta, conforme divulgado pela ABTA semana passada, pelo menos 1/3 desse bolo ainda vem das receitas de banda larga das operadoras), mas é questão de tempo. “A ABTA projeta que teremos entre 35 e 45 milhões de assinantes em 2017. Se isso for confirmado e com a Lei 12485, que ao mudar o marco regulatório destrava investimentos em todas as atividades do setor, estaremos diante de um cenário que irá potencializar o crescimento como nunca antes visto”, ressalta, citando ainda o aumento do poder aquisitivo da população, com uma Classe C que deverá representar 60% da população em 2014. “E cujo potencial de crescimento está longe de se esgotar”.
Rangel disse que 45% das receitas de TV da América Latina vem do Brasil e, com isso, a Ancine considera uma consequência natural a circulação do conteúdo nacional no mercado latino-americano. “E mais canais estrangeiros aqui, com obrigações de transmitir também conteúdo nacional, fatores que irão alavancar o crescimento do mercado audiovisual do país”, complementa.
Por fim, o presidente da Ancine frisou que o Fundo do Audiovisual irá atuar para fortalecer a produção brasileira e as programadoras nacionais, investindo na expansão das produtoras, fomentando a criação de conteúdo de qualidade e contratação de profissionais qualificados, entres outros benefícios.
Debate
A apresentação de Manoel Rangel fez parte do painel “Os impactos do novo marco legal” e foi sucedida de um debate, moderado pelo jornalista André Mermelstein, que contou com a participação do próprio presidente da Ancine e de Paulo Saad, vice-presidente do Grupo Bandeirantes; Anthony Doyle, vp da Turner do Brasil; Fernando Ramos, diretor executivo da G2C (Globosat); Rodrigo Marques, diretor executivo de estratégia e gestão operacional da Net; e Luis Antônio da Silveira, produtor executivo da Conspiração Filmes.
Saad, que disse que o Grupo Band pretende se consolidar como o segundo maior programador da TV por assinatura brasileira (posição que, segundo ele, já pertence à companhia) e diminuir a atual distância que possui para a líder Globosat, afirmou que sua empresa pretende responder ao desafio que o setor impõe lançando novos canais e investindo na qualidade da programação. “Não é fácil, até porque não vejo o cenário tão otimista como disseram. A crise econômica internacional está tendo reflexos no país e vejo um esgotamento dos recursos da falada Classe C”, questionou.
Foi também do executivo o ponto mais polêmico criado no debate, ao questionar Manoel Rangel sobre os fundos de investimentos direcionados ao audiovisual. “Em nossos 75 anos de atuação usamos muito pouco os recursos governamentais. E no mercado, principalmente na época da Embrafilme (criada no final dos anos 60), a maioria do que foi utilizado no país para produzir com fundo de governo não gerou conteúdo de qualidade, e sim muita porcaria”, ressaltou. Logo depois, Saad disse que não estava fazendo exatamente uma crítica à atual situação, mas sim que espera que tais investimentos sejam melhores utilizados, e não por “uma equação política ou pela necessidade de produção”.
Rangel lembrou que a história recente de investimentos governamentais geraram conteúdo de qualidade, caso do filme “Tropa de elite”, da série de desenho animado “Peixonauta” (exportado para mais de 60 países e com diversas premiações) e de “Julie e os fantasmas”, série infanto-juvenil da própria Band.
Os demais debatedores atentaram aos problemas de prazos para cumprir as diversas questões burocráticas, logísticas e mesmo de produção e importação de conteúdos. “Precisamos de flexibilidade e compreensão por conta da Ancine”, enfatizou Doyle. “Queremos que a agência seja mais ágil nos processos de análise”, ressaltou Silveira.
Rangel disse que a agência irá se guiar pela ação dos movimentos do mercado, que terá sim “toda paciência que os players reivindicam”. “Queremos que todos venham até nós falar de seus problemas. Como diz aquela velha máxima do futebol, ‘quem se desloca tem preferência’”, completou, citando a famosa frase de Neném Prancha, que no século passado ficou conhecido como “o filósofo do futebol”.
Fonte:Propaganda & Marketing -Mídia