2 de maio de 2010| 20h13|
Por Jocelyn Auricchio
Os aparelhos de TV 3D estão chegando ao mercado. Mas falta a eles algo essencial: conteúdo. Por mais impressionantes que pareçam na teoria, é preciso ter o que ver nessas telas.
E é a posição diante da produção de conteúdo que marca a divisão entre fabricantes desses aparelhos. Enquanto as coreanas Samsung e LG apostam na tecnologia à espera de que a indústria do entretenimento se vire para produzir o que será visto ali, as japonesas Panasonic e Sony priorizam o conteúdo.
As duas empresas coreanas se apoiam na simulação do efeito estereoscópico.
As TVs são equipados com tecnologia que multiplica as imagens convencionais e insere um pequeno grau de profundidade na imagem. Mas esse efeito é instável e gera profundidade em lugares errados da imagem. As empresas também lançarão aparelhos de Blu-ray 3D, mas não estarão diretamente envolvidas na produção de conteúdo.
A Panasonic afirma que só trará seus modelos de TVs de plasma 3D ao Brasil quando existir uma oferta considerável de conteúdo. A empresa fabrica câmeras profissionais 3D para produtoras e estúdios de televisão.
A Sony vai além e aposta na produção de conteúdo. Além de fazer filmes em 3D em seus diversos estúdios cinematográficos e prometer títulos de jogos com a tecnologia para rodar no PlayStation 3, a empresa programa o lançamento de filmadoras e câmeras fotográficas para que o usuário gere seu conteúdo 3D.
No meio do caminho está a Philips, que não gera conteúdo mas foi uma das responsáveis por boa parte das pesquisas que culminaram na chegada da tecnologia 3D doméstica. A Philips desenvolveu os primeiros aparelhos 3D lenticulares, que dispensam óculos especiais, mas acabou não pegando por conta do preço alto e da qualidade de imagem inferior à HD. A empresa ainda não mostrou sua tecnologia atualizada. Pioneira do plasma no Brasil, adotou o LCD como padrão e acredita que telas com diferentes formatos, com foco principal na qualidade da imagem, são as mais indicadas para o consumidor brasileiro.
Isso porque, é bom lembrar, o mercado brasileiro ainda é dominado pela TV de tubo. Esta deve ser a primeira Copa do Mundo em que a venda de TVs finas vai superar a venda de TVs de tubo.
Toda a linha de telas Philips LCD de 2010, com exceção da Cinema 21:9, que ainda está em estudos de viabilidade de produção local, será feita em Manaus.
A principal diferença dos modelos da holandesa em relação aos outros, à primeira vista, é a espessura. Na contra-mão da tendência de mercado, a Philips optou por manter os aparelhos mais grossos dos que os da concorrência. O argumento é que, com mais espaço, é possível investir em altofalantes de qualidade superior e conseguir iluminação mais uniforme.
Tridimensional demais. Para tentar dar um jeito de responder à pressão de alguns fabricantes para emplacar televisores e aparelhos compatíveis com a tecnologia, muitos estúdios estão lançando filmes 3D apenas para tentar capitalizar a febre das salas de cinema e, posteriormente, nas salas de estar.
Responsável em parte pelo início dessa onda, James Cameron é também um de seus maiores críticos. Durante um evento em SP, o cineasta afirmou que “o 3D deve ter tratado como conteúdo premium”.
E reclamou da falta de capricho da indústria no uso da nova tecnologia. “Se filmes como Guerra nas Estrelas e Indiana Jones ganharem versões em 3D, que isso seja feito com cuidado. Agora, se você quer realizar um novo filme no formato, deve filmar com câmeras em 3D. Apenas fazer a conversão depois é muito desleixo.”
Noves fora. Enquanto não houver oferta ampla de conteúdo, com programas de TV, filmes e jogos 3D, é difícil que a tecnologia seja adotada em larga escala. Ainda mais levando-se em conta que os aparelhos top custam, em média, R$ 10 mil. Uma família de quatro pessoas paga, em média, R$ 120 pelos ingressos para ir a uma sessão de cinema 3D, o que quer dizer que uma TV equivale a 83 idas ao cinema.
Frases
“Poderíamos ter uma TV 3D nas lojas para a Copa. Mas não há conteúdo para esses aparelhos que justifique a compra. Esse é o ano do HD.”
Caio Ortiz, vice-presidente de marketing da Semp-Toshiba
“O 3D será oferecido como acessório, para quem já está pronto para desfrutar do conteúdo, com um leitor de discos Blu-ray 3D, por exemplo.”
Eduardo Junqueira, gerente geral de TV, Áudio, Vídeo e Multimídia da Philips
“Por causa da falta de sinal, a Copa de 2006 foi frustrante para quem comprou uma TV HD. Por isso só lançaremos 3D no Brasil quando houver conteúdo disponível.”
Daniel Kawano, gerente de produto da Panasonic Brasil