Acostumada com a linearidade e as simplificações ocidentais, a mídia não está percebendo a linguagem cifrada, sutil, que chega do Oriente.
Os telejornais e portais da noite de quinta-feira (10/2) não souberam fazer a leitura correta dos despachos que chegavam do Cairo. Queriam a renúncia formal do ditador Hosni Mubarak e não perceberam que o rais já não manda, agora é apenas o chefe de Estado, de jure. A república castrense voltou a funcionar ostensivamente como acontece há quase 60 anos consecutivos, desde a derrubada do rei Faruk.
Mais competência
Na reunião de quinta-feira do Conselho Supremo das Forças Armadas – sem a presença de Mubarak, teoricamente seu chefe – foi emitida uma nota de apoio às exigências legítimas do povo, denominada de Comunicado Número 1:
“O Exército continuará examinando medidas a serem tomadas para proteger a nação e as ambições do maravilhoso povo egípcio”.
Mas quem ameaça o Egito? É exatamente isto que falta explicar à multidão acampada na Praça Tahrir. Em algum momento a explicação será dada, porém sem dramatizações. O líder oposicionista El-Baradei já pediu a intervenção do exército antes que o país seja varrido por uma explosão popular.
O cenário está armado, faltam os novos atores. A mídia trouxe a Praça Tahrir para o centro do mundo. Agora, além da coragem para enfrentar a repressão precisará de muita competência e conhecimento para traduzir as complexidades de uma revolta sem revolução.
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