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A TV vai à classe C


Há duas semanas, a Globo anunciou que o “Bom Dia Brasil”, exibido das 7h30 às 8h30, sofrerá mudanças a partir de setembro.

Sai de cena Renato Machado e entra o espirituoso Chico Pinheiro, que terá mais liberdade para fazer comentários.

Na mesma faixa horária, a Record exibe o “São Paulo no Ar”, no qual fica sintonizado um terço dos aparelhos da classe C ligados no horário. Essa é só uma amostra de que, de olho nesse público que hoje representa 55% da população, as emissoras de TV aberta vêm adequando sua linguagem e conteúdo.

“Hoje ninguém é líder se não for líder na classe C”, resume Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, que há dez anos pesquisa as classes emergentes. Segundo estudo do instituto, ao qual a Folha teve acesso, a TV é a principal fonte de entretenimento de 53% da classe C. E é vista não só como fonte de informação mas de formação. “Por isso é preciso didatismo. A Globo, por exemplo, explicou no meio do programa “A Grande Família” o que é o Dow Jones”, diz Meirelles, referindo-se ao índice da Bolsa de Nova York.

SIMPLICIDADE
“Esse público, assim como os outros, tem que ver sua realidade retratada”, explica Octávio Florisbal, diretor-geral da Globo. E as mudanças para fisgá-lo vão do entretenimento ao jornalismo. Apesar de dizer que busca atingir a classe C em todos os seus produtos, a Globo investe em atrações específicas.

“Na dramaturgia, temos os núcleos populares e da periferia. “Tapas e Beijos” é um exemplo”, diz Florisbal, citando a série que estreou neste ano na faixa das 22h e bateu recorde de audiência na última terça, com 31 pontos. (Cada ponto equivale a 58 mil domicílios na Grande SP.) Dirigida à classe C, que dorme cedo, a série bate em audiência a novela das 18h.

PALAVRAS BANIDAS
Um exemplo de como a simplicidade foi adotada no jornalismo ocorre na Band, que baniu expressões como “alimento transgênico”. “Usamos alimento geneticamente modificado. Tentamos adotar uma linguagem mais universal em tudo”, diz Fernando Sugueno, gerente de pesquisa e programação.

Além da linguagem, a interação entre público e TV também ganha espaço. No “Manhã Maior”, o mais assistido pela classe C na Rede TV!, o telespectador é convidado a sugerir pautas no seu site.
“Eliminamos a distância entre público e TV”, diz Mônica Pimentel, superintendente artística do canal.

O SBT, tradicionalmente voltado para a classe C, perdeu nos últimos anos a vice-liderança em audiência para a Record. Para recuperá-la, o canal recorre a pesquisas.

“Percebemos que nosso público está mais exigente e tem maior contato com a TV paga, comparando e trazendo referências para avaliar os nossos programas”, diz Daniela Beyruti, diretora artística e de programação do SBT.

Para Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da Record, o canal se destaca porque oferece o que a classe C espera: “Informação ágil, linguagem simples, direta e sem preconceito”, afirma. “Ficar mais popular não significa perder a qualidade.”

Anunciantes se esforçam para chegar à TV de novo espectador
Programação já é pensada para atrair outro tipo de anunciante
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se a classe C é hoje a dona do dinheiro, é para lá que a publicidade irá. Atualmente, a TV aberta abocanha 64% do bolo publicitário.

“É a maneira mais barata de atingir a população”, afirma Luiz Lara, presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). Os anunciantes com foco nesse público preferem os intervalos de jogos de futebol, novelas e reality shows.

Mas quem procura atingir em cheio a classe C investe mesmo nos merchandisings. De acordo com pesquisa do Data Popular, 45% da classe C confia em produtos anunciados por apresentadores durante seus programas. E vale tudo para saber como vender, até publicitário fazendo imersão na casa de consumidores.

“É importante se conectar ao mundo real. Hoje não basta dizer com um megafone: “TV com 20% de desconto em 12 vezes'”, explica Cyd Alvarez, presidente da ABP (Associação Brasileira de Propaganda). E tanto interesse em anunciar para a classe C influencia a programação? Octávio Florisbal, diretor-geral da Globo, diz que sim. A opinião é compartilhada por Mônica Pimentel, da Rede TV!, Fernando Sugueno, da Band, e Daniela Beyruti.

“Não se faz programação sem considerar a demanda comercial que cada produto poderá gerar. Quem segue no caminho contrário não necessita de receita”, afirma Beyruti, do SBT. (SM)

AUDITÓRIO
RAUL GIL USA DOMÉSTICAS PARA CRESCER

“Vem aí a maaais bela empregada domésticaaa!”, anuncia Raul Gil nas tardes de sábado do SBT. Em busca de R$ 50 mil em ouro, além de R$ 20 mil para a patroa, as moças aparecem de espanador em punho. No dia 4 de junho, estreia do quadro, a audiência alcançou oito pontos, garantindo ao programa o terceiro lugar no horário. Durante o mês de junho, 54% dos espectadores que assistiram à atração pertenciam à classe C.

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