Uma bela notícia foi dada no início do ano. Em 2012, o cinema nacional arrecadou mais de R$ 1,6 bilhão e mobilizou mais de 140 milhões de espectadores. Porém, a notícia já não parece tão boa se a olharmos em detalhes.
Temos apenas dois filmes brasileiros entre os 20 mais vistos. Além disso, são somente 2.564 salas de cinema. Considerando os números, pode-se dizer que o cinema nacional não faz mais do que cosquinha na realidade do país.
Os Estados Unidos, que não são um bom parâmetro, contam com cerca de 40 mil salas de cinema, incluindo os seus mais de 600 drive-in. Apenas em Nova York, existem mais de 200 cinemas. Muitos, com várias salas.
A despeito do sucesso maciço da programação brasileira na televisão aberta, o nosso cinema ainda está engatinhando. E o cinema, como um todo, também. O que fazer? Há décadas, os especialistas dão receitas que, quase sempre, terminam baseadas em dinheiro obtido por políticas de Estado e/ou de patrocínios.
Pendurar o cinema nacional nas costas do Tesouro não é um bom negócio. Existem alternativas, e todas deveriam buscar, sobretudo, conectar a imensa massa de brasileiros da classe média baixa ao cinema. Trata-se de práticas comerciais e de políticas públicas para levar o cinema ao povo, às praças e às escolas, de forma ampla e intensa. Com um potencial pedagógico inexplorado, o cinema pode chegar às redes públicas de ensino na forma de vídeos, por exemplo. Filmes nacionais podem servir de base para uma reflexão, nas escolas de primeiro e segundo graus, sobre quem somos nós. Documentários podem ser produzidos sobre temas relevantes no país e mostrados de modo sistemático para os alunos.
É evidente que não podemos prescindir de políticas de Estado que estimulem o cinema por via de incentivos fiscais. Até que o mercado tenha condições de sustentar o sistema, como nos EUA, as verbas públicas serão importantes.
No entanto, verbas somente não são suficientes. Políticas transversais devem ser implementadas. O cinema tem de se aproximar dos novos públicos. Mas, utilizando apenas as salas existentes, isso não será possível. Escolas e centros comunitários devem servir como salas de exibição, e novas salas devem ser construídas.
A associação de emissoras de televisão, no caso, a Rede Globo, com o cinema tem dado bons resultados, e a iniciativa deveria ser praticada por outras emissoras. Recentemente, apenas dois filmes nacionais de sucesso não estão ligados à Globo: “Tropa de Elite” e “Bruna Surfistinha”.
O cinema, mais do que para uma olhada atenta sobre nós mesmos, deve servir para estimular o debate, a reflexão e o intercâmbio de opiniões nas comunidades. E o acervo de produções nacionais é essencial para tal empreitada. A ação deveria coordenar os produtores de cinema e as autoridades da educação, da cultura e da promoção social.
Levando o cinema nacional para escolas e comunidades, vamos formar novas gerações que se reconhecem na tela grande, assim como muitos se reconhecem nas produções das emissoras de televisão. O cinema é estratégico para a construção de nossa identidade. Para ampliar o conhecimento sobre nós mesmos e sobre como conhecer melhor nossa realidade. Em especial, em um país com sérias deficiências de educação como o Brasil.
Incentivando o hábito do cinema, vamos criar um imenso mercado, que irá, no futuro, caminhar com as próprias pernas e, também, disseminar o conhecimento sobre nós mesmos. Até 2020, o Brasil quer ser o quinto maior mercado consumidor e produtor de audiovisual no mundo. As metas foram estabelecidas pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). Para chegar lá, há muito a ser feito.
Fonte:O Tempo – Belo Horizonte -Brasil