Com a aproximação das telecomunicações, da tecnologia e da mídia, as indústrias do entretenimento e da mídia estão passando por uma ruptura sem precedentes. Produtores musicais, diretores de cinema, emissoras de televisão, editores de jornais e de livros estão tendo que repensar seus modelos de negócios e, em busca de uma resposta, muitos estão voltando para a escola.
“Vemos um aumento na demanda desses profissionais por nossos programas executivos e pelo MBA”, afirma Sandra Sieber, professora e diretora de sistemas de informação da escola de negócios Iese de Barcelona, que ministra o curso de estratégias avançadas de mídia digital.
Ela também notou um crescimento no número de empresas do setor que vão até o campus da Iese para buscar alunos com habilidades empresariais, uma vez que perceberam que não podem mais desenvolver dentro de suas organizações os talentos de que necessitam. Antes, elas representavam apenas uma pequena parcela dos recrutadores da escola. “Nossa divisão de serviços de carreira está intensificando tudo que diz respeito a tecnologia, mídia e entretenimento. Passamos a ter mais corporações que querem contratar alunos de MBA nessas áreas”.
Não há dúvidas de que o setor precisa descobrir como manter a lucratividade em um mundo em que a tecnologia on-line corroeu muitas fontes tradicionais de receita. Para emissoras de televisão, jornais e outros, o velho modelo, em que o conteúdo gerava receita publicitária, está desaparecendo. “Antes, você apenas garantia um produto de qualidade e o resto se ajeitava”, diz a professora Sandra. “Hoje, todas as organizações da área estão em busca de novos modelos de monetização.”
E no que diz respeito ao conteúdo, a internet, enquanto canal de distribuição de mídia e entretenimento, também vem dificultando cada vez mais a identificação das divisões entre os setores. As emissoras de TV com presença na internet agora precisam produzir conteúdo escrito, enquanto os jornais migram para a internet e sofrem pressão para produzir vídeos.
As companhias de mídia estão invadindo os territórios umas das outras. A provedora de vídeos por assinatura on-line Netflix, por exemplo, fez uma incursão na produção de TV com o lançamento de sua primeira série original, “House of Cards”. Ao mesmo tempo, a disponibilidade de conteúdo ‘on-demand’ reduziu as oportunidades de lançamento das emissoras de TV que se viram obrigadas a repensar as estratégias de programação.
As organizações também precisam se adaptar a um mundo em que os usuários querem personalizar a maneira como consomem mídia e entretenimento, pulando frequentemente entre uma forma e outra, com o uso de tipos diferentes de dispositivos eletrônicos. “O que a tecnologia digital fez ao conteúdo, à propriedade intelectual e à maneira como ele é distribuído rompeu os modelos de negócios básicos que esses setores adotavam”, diz Sarah Smith-Robbins, diretora sênior de novas tecnologias da Kelley School of Business da Univesrsidade de Indiana, onde ministra um curso de estratégias digitais de marketing.
Várias escolas oferecem cursos parecidos ao da Iese, visando executivos de empresas de mídia e entretenimento. No entanto, há quem defenda que os principais cursos de MBA também podem ajudar esses profissionais a encontrar seus caminhos no novo cenário. Em primeiro lugar, com os executivos claramente necessitando interpretar grandes quantidades de dados gerados on-line por downloads, visualizações de páginas e cliques em anúncios, os cursos básicos de contabilidade ou estatística podem fornecer ferramentas úteis.
Isto é algo que Jillian Smith, estudante do primeiro ano de MBA da Stern, experimentou em primeira mão. Antes de iniciar o MBA, ela trabalhava para companhias como a “US News & World Report” e “The Daily Beast”. Nesse período, assistiu o setor ser cada vez mais conduzido pelos dados. “Eu via uma certa deficiência das empresas na maneira de usar essas informações em seus negócios”, diz. “Com a tecnologia, há flutuações enormes num piscar de olhos, de modo que você precisa estar sempre preparado. Tradicionalmente, a indústria da mídia não tem essa capacidade de adaptação.”
Jillian Smith descobriu elementos quantitativos do curso que teriam sido úteis em seus empregos anteriores. “Poder trabalhar rapidamente com números definitivamente é algo que teria ajudado”, diz. Ela também acredita que o MBA oferece aos executivos de seu setor algo que vai muito além dos números. “A escola de negócios ensina a olhar para as coisas de uma maneira mais criativa. O setor está estagnado. Há alguma inovação, mas ela não está onde deveria.”
Os profissionais de entretenimento e mídia também podem se beneficiar ao aprenderem junto com os alunos de MBAs tradicionais, segundo a professora Sarah, da Kelley School of Business. Como muitos estudantes ainda não ganharam experiência em um único setor como os de entretenimento e mídia, eles não têm ideias preestabelecidas sobre como deve ser um modelo de negócios, o que ajuda no debate em sala de aula.
“Voltar para a escola e ter essa liberdade pode ajudá-los a imaginar o que eles podem fazer de diferente”, diz. A professora Sarah ressalta que o MBA proporciona uma visão ampla sobre os setores que podem não ter nada a ver com você. “É possível ter uma vantagem competitiva ao estudar uma área que, de outra forma, você nem iria considerar.”
Ela admite, contudo, que os segmentos de entretenimento e mídia, assim como os acadêmicos, não têm uma fórmula para ser bem-sucedido em um cenário em rápida mutação. “Parte de nossa função é fornecer uma plataforma para as pessoas trocarem opiniões em um momento em que ninguém tem as respostas. Basicamente, nos tornamos os condutores da discussão.”
Fonte:Valor Econômico -Eu & Carreira