Economia – Página 37
Brasil é responsável por 2,2% da produção científica mundial, porém só detém 0,2% do total de patentes
Eliane Oliveira e Gustavo Paul
BRASÍLIA. Num mundo em que as nações desenvolvidas e emergentes consideram a inovação tecnológica essencial para conquistar novos mercados e igualmente manter sua clientela, o Brasil vive um descasamento entre a universidade — onde se concentram os esforços de pesquisa e inovação — e a empresa.
Para se ter uma ideia desse hiato, enquanto o Brasil é responsável por 2,2% da produção científica mundial, o país só detém hoje 0,2% do total de patentes.
— Produzimos conhecimento, mas não há transferência tecnológica para que as empresas possam usufruir os benefícios das inovações — admite o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Ronaldo Mota.
Outro dado que chama atenção, presente no último relatório do “World Intellectual Property Indicators”, é que 84,2% das patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), à espera de aprovação, são de pessoas não residentes no Brasil. O governo, porém, diz que pretende elevar os investimentos em inovação dos atuais 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) para 1,5% em 2010.
Segundo Mota, além dos incentivos fiscais para pesquisa e desenvolvimento, que no ano passado somaram R$ 9 bilhões, contra R$ 5,1 bilhões em 2007, os recursos para financiamento de projetos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) vão crescer de R$ 2,2 bilhões este ano para cerca de R$ 3 bilhões em 2010. O BNDES, outra fonte de apoio na área de inovação, diz que já desembolsou R$ 352 milhões este ano em 50 projetos.
Para o diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da Universidade de Brasília, Afonso Bermudes, o melhor meio de repassar o conhecimento à sociedade é via empresa, que precisa ser incentivada e alertada. No CDT há uma incubadora de onde já saíram 80 empresas com 300 produtos.
— As empresas nunca foram incentivadas a procurar a universidade.
Como há 40 anos as grandes empresas eram multinacionais, estas mantinham relações com as universidades de seus países. Agora, a universidade não é apenas formadora, mas também pesquisadora — destacou Bermudes.
Segundo o acadêmico, nos países desenvolvidos, sempre houve políticas vigorosas de incentivo para que o conhecimento chegue à sociedade. Ele citou como exemplo a tv digital.
— As universidades foram chamadas e foi dito a elas: proponham um modelo. Inovação também deve estar na agenda das empresas A gerente de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Diana de Mello Jungmann, alerta que a inovação deve ser uma agenda prioritariamente empresarial e não apenas governamental e acadêmica, como ocorre atualmente. Ela adverte que a preocupação com melhorias em produtos, processos e tecnologia ainda não chegou ao chão das fábricas e, se permanecer concentrada na academia, não terá expansão sustentável.
— Inovação é a capacidade empresarial de transformar boas ideias em PIB e não em paper (texto acadêmico). A inovação precisa ser apropriada pela empresa, para ser comercializada de forma sustentável. Isto requer uma atenção especial para as questões que envolvem o correto uso do sistema de propriedade intelectual.
Por isso, a CNI deve lançar até fevereiro uma cartilha voltada para os empresários com o objetivo de disseminar a cultura inovadora. Esse foi um dos acertos de um documento enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por empresários de grande porte em outubro, para fomentar a inovação no país.
O plano tem como meta dobrar o número de companhias inovadoras brasileiras em quatro anos, saltando para 60 mil empresas.
A diretora-superintendente da área de Subvenção e Cooperação da Finep, Gina Paladino, disse que, apesar da defasagem, o número e a qualidade de empresas que trabalham com universidades vêm aumentando. Segundo ela, há 400 incubadoras de empresas no país, a maioria vinculada a institutos de pesquisa.
Os principais projetos são das áreas de remédios, biotecnologia e mecânica de precisão: — Boa parte dos empreendedores são oriundos de universidades.
Inovar dá dinheiro.
Há casos de sucesso. Roberto Lins de Macêdo é um exemplo.
Era ainda estudante na Universidade de Fortaleza quando criou, como trabalho de conclusão do curso de engenharia eletrônica, o Sistema de Apoio ao Combate de Incidentes (Saci).
Trata-se de um robô controlado à distância para combater incêndio, considerado o equipamento com maior capacidade de vazão de jato de água do mundo, o que rendeu à empresa de Macêdo, a Armtec, 30 prêmios nacionais e internacionais e um faturamento de R$ 850 mil em 2008.
Por sua vez, José Moniz, diretor de Novos Negócios da Ited, de São Paulo, criou em parceria com uma universidade paulista, o Valequa, usado para medir desempenho de atletas de natação.
É uma espécie de carrinho sobre trilhos que acompanha o nadador desde o momento da entrada na piscina até a conclusão da prova. Uma câmera subaquática registra em arquivo digital a performance do atleta e um software converte as informações capturadas em gráficos.
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