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Mulheres ganham força e sindicato perde espaço no novo perfil do jornalista brasileiro – S

O perfil do jornalista mudou. Assim como as redações deixaram de ter máquinas de escrever e cinzeiros em cada mesa, os profissionais que assumiram os computadores nos últimos vinte anos também são outros. Sai o homem com mais de 35 anos, sem curso superior, sindicalizado, entram mulheres com menos de 30, formadas em faculdades particulares, sem filiação ao sindicato e despolitizadas.

Estas são as conclusões de uma pesquisa organizada pela Professora Doutora Roseli Fígaro, professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com Cláudia Nonato e Rafael Grohmann,

O estudo acabou se tonando o livro “As Mudanças no Mundo do Trabalho do Jornalista”, que será lançado em formato de e-book na próxima quinta-feira (15/8), às 18h30, no auditório da livraria Martins Fontes, na Av. Paulista, nº 509.

“A pesquisa começou em 2009, quando tínhamos acabado de ver o resultado de outro trabalho sobre o mundo do trabalho dos comunicadores, que já apontava uma mudança profunda, um “borrar de fronteiras”, entre as profissões da área. Publicitário fazendo papel de jornalista, jornalista fazendo papel de relações públicas”, diz Roseli.

Para descobrir o perfil sócio-econômico, cultural e a faixa etária dos jornalistas que atualmente ocupam as redações, os pesquisadores ouviram cerca de 900 entrevistados, divididos em diferentes etapas de pesquisa. O primeiro contato contou com o apoio do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. “Do retorno desse primeiro questionário, verificamos que os resultados não batiam com outras pesquisas recentes feitas no Brasil, porque mostrava jornalistas mais velhos, homens e com uma carreira mais estável”, conta.

Para confrontar esses dados, foram enviados questionários para rede profissionais, como “Ajude um Repórter”; para jornalistas freelancers; e para empregados de uma grande empresa editorial de São Paulo. “E o que nós verificamos nessas fontes, diferente do sindicato, é que os jornalistas eram mulheres e jovens. Isso mostra que as novas gerações não estão se sindicalizando”, revela Roseli.

Essa mudança de perfil levanta questões vitais não apenas para os profissionais da área, sujeitos a vínculos empregatícios cada vez mais precários, como também chama atenção para nomenclaturas paradoxais, como “freela fixo”. “Quando as dificuldades financeiras aparecem, vão atrás de outro trabalho. E cada vez mais ônus, como custos básicos que uma empresa teria – por exemplo água, luz, telefone – são repassados para essa pessoa e ela não se dá conta disso”, afirma.

Outra consequência da precariedade dos vínculos empregatícios apontada pela pesquisa é a dificuldade do jornalista em entender o contexto econômico e político que está envolvido. “Tivemos falas até muito polêmicas de entrevistados. Um depoimento diz: ‘se me perguntarem se eu quero fazer uma matéria sobre política eu vou dizer que não, porque não sei qual a diferença entre PMDB, PSDB, acho que muda só a letra. É melhor que um político escreva sobre política, porque eu não vou saber fazer, vou ter que estudar uma semana para isso’”, conta Roseli.

O livro aborda ainda as mudanças de perfil das empresas, que deixaram de ser monopólios familiares na década de 1980 para se tornarem oligopólios internacionais nos anos 2000. “Essas empresas se profissionalizaram de uma maneira que são empresas de capital aberto, como outra qualquer. Mas o jornalismo não é uma atividade qualquer. A informação não é uma mercadoria, é um direito fundamental do cidadão”.



Fonte:Portal Imprensa

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