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O rádio: companheiro e amigo inseparável

Fonte: Diário da Manhã – Goiania – Opinião

07/06/2013 às 21h37

Diário da Manhã
Paulo Rolim

Parece engraçado, mas como senti sua falta. Depois de deixá-lo sobre um móvel com mais de metro de altura e inadvertidamente esbarrar a minha mão – na correria para atender uma ligação no telefone celular (ele sempre tem pressa), derrubei-o e em troca, ele ficou mudo. Mudo, de não dar sinal de vida.

Não estou falando de uma pessoa, mas do meu radinho de pilha, companheiro de todos os momentos, de todas as horas.

Sem rádio, posso dizer que sou ninguém.

Desde os momentos em que nos meus devaneios, busco ouvir as canções de qualidade (hoje tão raras no dial), até o sufoco dos jogos do meu Vila Nova, passando pelas madrugadas insones, ele esta ali, a oferecer companhia.

Assim, vem-me à lembrança a minha meninice, no longínquo e distante tempo em que na Fazenda Nova América, depois de um dia intenso de trabalho, meu pai fazia sua refeição, ficava a ouvir os programas sertanejos em um imponente ABC – A voz de Ouro. Depois vinha a Hora do Brasil (era assim que falavam naquela época) e antes que o cansaço do dia o depusesse na cama ainda havia tempo para as melodias e a alegria dos programas das emissoras de São Paulo. Era o rádio que trazia alegria e entretenimento naqueles tempos difíceis, de trabalho árduo na roça, de preocupações imensas com o futuro dos filhos, porém, sem o negativismo atual da televisão comercial.

Lembro também que sempre havia algum vizinho que não tinha rádio, e pedia licença para ficar na nossa casa, aguardando notícias dos familiares que estavam em tratamento médico “lá pra cima”, como denominavam a capital do estado, e isso tudo só era possível via rádio. Onde se ouviam os recados e ao final destes, invariavelmente o locutor dizia a célebre frase (que é dita até hoje): quem ouvir, favor comunicar.

Na beira do riacho, onde se reuniam mulheres para lavar as roupas, lembro do rádio de pilha portátil alegrando e divertindo. Essas mulheres faladeiras e sonhadoras pareciam não ver o tempo passar, sequer sentiam o peso da roupa que tinham que lavar. Era época da Jovem Guarda, e Roberto Carlos, com seu calhambeque amenizava a vida difícil daquele povo.

Também não posso deixar de lembrar que foi através de um recado no rádio, que a minha família soube do meu nascimento, lá pelos idos de 1966.

O bom e velho rádio.

Foi também ouvindo rádio, que embalei meus momentos de namoro. O rádio trazia canções românticas que serviam de tema, pano de fundo para dois corações apaixonados.

Hoje, depois de mais um dia, tenho como companheiro todos os dias na volta pra casa, a enfrentar o trânsito difícil, o radio do meu carro. amigo e companheiro!

Assim, a vida, seguindo como devia ser.

(Paulo Rolim, jornalista. Twitter: @americorolim)

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