O apresentador de uma mesa-redonda futebolística de um canal pago manifestou semana passada o seu espanto com a quantidade de telespectadores “de lugares diferentes” que vinham mandando mensagens para o site do programa, a fim de contribuir com os debates ali travados.
O lugar que suscitou tal comentário foi o município de Aracati, no Ceará. Porém, no mesmo dia foram lidos recados de várias outras cidades do Nordeste, região onde mais cresce o mercado nacional de TV por assinatura.
De acordo com os números mais recentes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), nos 12 meses encerrados em outubro o Nordeste registrou uma expansão de 49,4% no número de acessos ao serviço, ante uma média nacional de 29,5%. Em dois anos, o avanço foi de 124%, comparado a 70% do Brasil como um todo. O desempenho é explicado basicamente pelo aumento do poder de compra da população na segunda região mais populosa do país, que concentra acima de 53 milhões de habitantes.
A elevada demanda reprimida – de cada cem domicílios atendidos, cerca de oito contam com o serviço, ante uma média de 29 no Sudeste – deve manter o Nordeste como grande filão a ser conquistado pelas empresas do setor nos próximos anos, o que já estimula uma série de movimentações. Na iminência de ser autorizada a comercializar TV a cabo na região, a Net é tida nos bastidores como a mais forte estreante no mercado nordestino. A empresa tem investido pesado na ampliação de sua rede de fibra óptica e deve entrar de forma agressiva no segmento de TV da região.
A permissão deve sair em breve, assim que a Anatel editar o novo regulamento de TV por assinatura, de forma a refletir as mudanças na legislação, aprovadas neste ano no Congresso. A nova lei abre totalmente o setor para as operadoras de telefonia, acaba com as restrições ao capital estrangeiro nas empresas de TV a cabo e extingue o limite que existia ao número de licenças de cabo por região.
Após um investimento de R$ 100 milhões, a Net lançou em agosto deste ano a sua operação de banda larga no Recife, sob a promessa de, assim que autorizada, passar a oferecer TV a cabo. A empresa também está reforçando a sua rede na Grande Salvador e já atua em João Pessoa e Maceió, por meio da Big TV, adquirida em 2007. Segundo fontes do setor, a Net vem negociando uma série de aquisições de pequenas operadoras regionais, com vistas a ganhar maior relevância no Nordeste.
Enquanto a autorização não sai, a principal operação da Telmex, controladora da Net, se dá pela Via Embratel, que oferece o serviço via satélite, na tecnologia conhecida como DTH. O sistema, que vem crescendo em todo o Brasil, é o mais importante no Nordeste, com participação de 76,1% no total de acessos, segundo os dados da Anatel referentes a outubro. No país como um todo, o DTH ocupa fatia menor, de 52,7%.
Maior operadora nacional em TV com tecnologia via satélite, a Sky tem obtido resultados no Nordeste que agradam sua direção. Sem revelar números, o diretor-comercial da empresa, Sérgio Ribeiro, informou que a região cresce acima da média nacional, puxada pela demanda da classe C. Além das principais capitais – Salvador, Recife e Fortaleza -, ele destacou Natal como uma praça “muito interessante”. “Também percebemos um crescimento importante no interior”, complementou o executivo.
Ribeiro avalia que o cliente nordestino é ligeiramente mais sensível a preço, motivo pelo qual o pacote de entrada da Sky, com mensalidade de R$ 49, tem uma participação um pouco maior no portfólio quando comparado ao Sul e Sudeste. Ele diz acreditar, no entanto, que preço baixo não será o caminho para quem quiser deslanchar no cenário mais competitivo que se avizinha.
“Os produtos vão ficar parecidos em preço e conteúdo, o diferencial será o atendimento. Não adianta só vender. Isso vai fazer a diferença”, afirmou o diretor, que admite que a entrada maciça das operadoras de telecomunicações no negócio vai acirrar a competição. Ele avalia, no entanto, que o fato de a Sky não dispor de outros serviços para serem empacotados não tira sua competitividade. “Não é impeditivo, não é algo que afete o nosso crescimento”, resumiu.
Em contrapartida, a Embratel aposta no apelo ao bolso do consumidor. Com pacotes a partir de R$ 39 por mês, a empresa espera avançar rapidamente na região com seu serviço de DTH. “O momento econômico do Nordeste é, sem dúvida, um fator que garante o crescimento, mas acreditamos que a população da região está adquirindo nossos produtos em ritmo acelerado por conta do valor agregado e pelo custo extremamente competitivo”, afirmou João Filho, diretor-executivo da Via Embratel.
Com a entrada da Net, a Telmex– que também controla a operadora móvel Claro – poderá diversificar o leque de pacotes (combos) com telefonia, banda larga e TV, adequando a oferta ao perfil e ao bolso de cada cliente. GVT e Oi também já estão comercializando pacotes com TV por assinatura no Nordeste, ambas baseadas em DTH. Como não havia perspectiva de autorização para explorar o serviço via cabo, as operadoras investiram na tecnologia por satélite e devem seguir por esse caminho. Procuradas pelo Valor, GVT e Oi preferiram não falar sobre suas estratégias para TV.
A entrada das teles e seus combos no negócio é vista com desconfiança por Carlos Becker, presidente da Sim TV, operadora controlada pelo grupo Bandeirantes de Comunicação e que oferece TV a cabo e banda larga nas regiões metropolitanas de Salvador, Recife e Aracaju, além do município baiano de Feira de Santana. Segundo o executivo, a complexidade de regras para aquisição dos pacotes vai confundir os consumidores.
“Vão começar as ‘pegadinhas’ que hoje não existem neste setor”, afirmou Becker, referindo-se às promoções temporárias e aos planos de adesão com multa rescisória, comuns nas operadoras de telefonia. Ele diz acreditar que, diante disso, a oferta de um serviço de qualidade vai acabar fazendo a diferença.
O plano da Sim TV é crescer por meio de aquisições. Segundo Becker, uma compra está sendo negociada em Fortaleza, porém ele preferiu não adiantar detalhes. A operadora conta com uma rede de pouco mais de mil quilômetros de fibras ópticas e oferece planos a partir de R$ 39. Além das cidades nordestinas mencionadas, há operações em Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. (Colaborou Talita Moreira, de São Paulo)
Fonte:Valor Econômico -Empresas