O Brasil pode tornar-se um polo mais atrativo para coproduções internacionais no mercado audiovisual. Entre os motivos que atraem a atenção das produtoras estrangeiras estão as dificuldades dessas empresas para obter recursos em seus países de origem, e a Lei 12.485/2011, que criou cotas de coprodução brasileira na TV paga. Os produtores internacionais estão mais propensos a contar com o dinheiro de países emergentes para suas produções, ao mesmo tempo em que os brasileiros querem dividir custos e ganhar mercado em outros países.
“Hoje, a coprodução internacional é decisiva para financiar os projetos audiovisuais”, diz o assessor internacional da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Eduardo Valente. Há cinco anos, disse Valente, o país era visto como um grande consumidor dos produtos internacionais, com participação pouco representativa no cenário das coproduções. Essa situação mudou. “[O Brasil] não é só um país periférico, a ser explorado como um mercado eventual. É um possível parceiro de negócios”, disse o assessor da Ancine no RioContentMarket, evento de conteúdo realizado no Rio na semana passada.
“Nem dá para abraçar a quantidade de oportunidades”, disse Andrea Barata Ribeiro, sócia-fundadora da O2 Filmes. Dentre os projetos internacionais de que a O2 participou está o filme “Ensaio Sobre a Cegueira”, uma coprodução com empresas do Canadá, Reino Unido e Japão, exibido em 2008. O filme, dirigido por Fernando Meirelles, levou para as telas o romance do escritor português José Saramago.
A 02, disse Andrea, participa de uma nova coprodução com os mesmos parceiros de “Ensaio Sobre a Cegueira”, mas não deu detalhes sobre o projeto.
As coproduções internacionais criam a oportunidade de expor a imagem do país no mundo, disse o fundador da Grifa Filmes, Fernando Dias. “O valor desse conteúdo vale milhões de vezes mais que um anúncio que a Embratur possa comprar [em uma TV no exterior]”, afirmou.
A Grifa Filmes fechou um contrato de € 1,5 milhão com a emissora franco-alemã Arte para a transmissão de um programa que vai contar a história do Brasil por meio da culinária. O programa, que terá de 15 a 20 episódios e estreará na França no primeiro trimestre de 2014, será apresentado pela chef Bel Coelho.
A coprodução internacional, segundo Dias, é um meio para que o conteúdo brasileiro seja exibido em TVs de outros países sem a resistência que as produções internacionais eventualmente enfrentam em determinados mercados. Potencialmente, quanto mais países estiverem envolvidos em uma produção, maior será o número de espectadores a que o conteúdo estará exposto.
O modelo de cotas para coproduções na TV, que também existe em outros países, tem provocado polêmica no Brasil. A lei que determina a implantação desse modelo sofreu três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs). O movimento levou o ministro Luiz Fux, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), a marcar duas audiências públicas sobre o assunto.
Andrea Barata Ribeiro, da O2, disse que antes da aprovação da lei, a produtora fazia duas séries por ano em média. “De meados de 2012 para cá, estamos fazendo sete séries”, afirmou. Atualmente o segmento de entretenimento responde por 30% do faturamento da empresa, com previsão de chegar a 40% até o fim do ano, disse a executiva. O restante da receita vem dos filmes publicitários, que já chegaram a representar 95% do faturamento da produtora.
Fonte:Valor Econômico -Empresas