Para a ministra Ana de Hollanda, tratar a cultura como indústria vai permitir emancipar o mundo da criação e livrá-lo dos “vícios” das leis de incentivo. Leia trechos de entrevista da ministra da Cultura concedida à Folha.
Folha – Por que criar uma Secretaria da Economia Criativa?
Ana de Hollanda – Essa é uma demanda do século 21. As áreas de design, arquitetura e moda representam a maior parcela da cadeia produtiva da indústria criativa e a Cultura não encampava como um assunto seu.
A moda está presente em outros ministérios, mas estava fora da Cultura. E moda é cultura, é criação. Aplicada na indústria. Como o design.
Estamos revendo a forma de tratar a criação artística e cultural. Existiam ações, iniciativas isoladas.
Falta uma política mais consistente…
As pessoas vivem muito de eventos, de produzir eventos pela Lei Rouanet. A lei foi criando certos vícios. Não só no mundo artístico mas também no das empresas. Temos de pensar uma política mais organizada, sistemática, para que a cadeia produtiva possa trabalhar do começo ao fim, da criação até a distribuição e a venda.
A lei fez mal para a cultura?
A lei tem suas virtudes e é boa para eventos especiais. Mas um trabalho permanente ela não permite.
Os artistas vivem de elaborar “n” projetos para ver em qual edital emplacar. Uma exposição que vai durar um mês e o artista fica três em pré-produção, depois em pós-produção, fazendo aquilo render o máximo. Isso não é profissão.
A economia criativa pode preparar o ambiente para que isso flua, para que a produção seja difundida.
Como a secretaria trabalhará?
Precisamos profissionalizar o mundo da criação, que é muito informal. Do artesão ao escritor, músico, ator e artista plástico, as pessoas vivem na dependência de agentes intermediários e não se profissionalizam. Vamos trabalhar com outros ministérios: Desenvolvimento, Trabalho, Justiça.
A sra. diria que a Lei Rouanet é como o Bolsa Família, e a economia criativa, uma porta de saída?
Acho radical a comparação. Há eventos grandes para os quais a lei é fundamental. Mas temos de trabalhar nesse sentido. Não será a curto prazo, mas temos de buscar caminhos para emancipar o mundo da criação.
Vai ter orçamento no ministério para apoiar também a moda, o design, o software?
Essas áreas já são mais sustentáveis, mais estruturadas. Não existe disputa de verba, vamos atrair muito mais recursos.
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