Estudo internacional coloca o internauta do país como o segundo mais sociável do mundo. Especialistas acreditam que comportamento é tanto reflexo do estilo de um povo mais aberto quanto consequência da relação ainda incipiente com a web
O homem cordial, definido pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda no livro Raízes do Brasil, nunca esteve tão apegado às relações de amizade quanto hoje. A rede de computadores e suas inúmeras formas de interação fizeram do brasileiro um dos mais sociáveis em todo o mundo. Pesquisa do instituto internacional TNS mostrou que os internautas do país ocupam o segundo lugar no ranking dos que têm mais contatos em sites de relacionamentos. Brasileiros adicionam, em média, 231 amigos, ficando atrás apenas dos nascidos na Malásia, que estabelecem relações com 233 pessoas.
Do outro lado, os menos empolgados com os laços virtuais são os japoneses, que mantêm uma média de 29 amizades na internet. A pesquisa, realizada em 46 países, também mostrou que o apego à web é maior nas nações emergentes, se comparado aos países desenvolvidos. No Egito e na China, por exemplo, as pessoas costumam mandar mensagens, postar fotos e comentários com maior frequência do que na Dinamarca e na Finlândia. “Os resultados sugeriram uma primeira hipótese: a de que habitantes de países ricos estariam mais habituados à web e, por isso, não seriam tão animados com as novas tecnologias de interação”, conta Lucas Pestalozzi, porta-voz do estudo no Brasil.
Pouco depois, porém, analistas da TNS Research International apontaram que o fascínio pelas redes sociais tem uma explicação cultural. “O universo on-line potencializa comportamentos tradicionalmente presenciais. Nos países desenvolvidos, o povo é mais frio e isso acaba refletindo na rede de computadores”, afirma Lucas. Bem diferente do que acontece na vida do servidor público Luciano Falcão, 25 anos. Com 831 amigos no Orkut, ele garante manter contato virtual frequente com, pelo menos, 500 deles. “Eu me considero amigo de todas as pessoas que conheço e tento sempre mandar um e-mail, um recado, uma mensagem pelo celular para manter o contato”, diz.
O rapaz tem apenas o perfil no Orkut. “Se eu fizer Twitter e Facebook, vou perder tempo demais.” Mesmo assim, gasta cerca de uma hora por dia para cultivar suas amizades. Parte delas, é claro, Luciano já não encontra presencialmente. “Tenho amigos de faculdade, por exemplo, que estudaram comigo somente em um semestre. Hoje, não nos vemos como antigamente”, reconhece. Nada que impeça o contato virtual.
Atitudes como a de Luciano fazem das redes sociais verdadeiras galerias da vida afetiva dos internautas. “Na web, existe a possibilidade de eternizar as pessoas que, de alguma forma, cruzaram o seu caminho”, avalia a psicóloga Andréa Jotta, no Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI), ligado à Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. “Não podemos analisar o mundo virtual com base em conceitos formados na vida presencial”, ensina a especialista.
Tendência
O porta-voz da TNS no Brasil explica que o grande número de contatos também mostra que os brasileiros são mais abertos ao engajamento on-line do que outros povos. “Aqui, não usamos a internet para gerenciar o tempo ou os contatos profissionais. Nosso envolvimento tem mais a ver com parceria, consideração”, diz. O consultor Leonardo Brito, 31 anos, reconhece essa característica na forma como utiliza a web. Participante da comunidade de doadores de sangue Veia social (www.veiasocial.com.br), ele conta que sempre retuíta posts do grupo e de campanhas contra o câncer e a favor da pedalada urbana.
“A internet mobiliza, até mesmo, gente que nunca teve contato com esse tipo de ação. Principalmente no Twitter, que é uma forma de interação mais inteligente”, opina. É uma bela oportunidade para os marqueteiros do futuro. Sérgio Lima, diretor de mídia da agência AD Brazil, afirma que o segredo é estimular o contato do internauta com o produto ou a marca. “O brasileiro é ávido pela participação. Mas ele não gosta de ser obrigado. Se uma promoção o obriga a fazer alguma coisa, por exemplo, ele foge e se volta contra a empresa”, alerta.
Para a psicóloga do NPPI, o uso das redes sociais deve se normalizar em breve. “Os primeiros três anos de uma nova tecnologia funcionam como um brinquedo na mão de uma criança. As pessoas usam em exagero, tentando entender como aquilo funciona”, observa Andréa Jotta. A especialista também acredita que, nos próximos anos, não haverá tantos dependentes de internet. “Os mais problemáticos hoje são os adolescentes em torno de 16 anos, gente que teve acesso à tecnologia, mas não à educação para saber usá-la. Com as crianças de hoje isso já é diferente, os pais não estão mais tão inocentes”, diz.
O mundo em bits
O Digital Life, da TNS Research International, é o mais abrangente estudo já realizado sobre o comportamento on-line. A entidade ouviu 48,8 mil usuários de internet, com idades entre 16 e 60 anos. Dados mais específicos sobre cada país serão divulgados pela TNS nos próximos meses.
200 já é demais
Mesmo com tamanha empolgação para fazer amigos virtuais, um estudo inglês afirma que é impossível manter mais de 150 amigos. Conduzida pelo antropólogo Robin Dunbar, a pesquisa mostra que o cérebro humano não consegue lidar com mais contatos, independentemente da personalidade do indivíduo.
OS EXTREMOS
Veja quais quem são os povos que têm mais e menos contatos nas redes sociais:
Os populares
Malásia 233
Brasil 231 Noruega 217
Os restritivos
Japão 29
Tanzânia 38
Coreia do Sul 50
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