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Gladiadores

Proibiram-se, numa lei polêmica, as touradas em Barcelona. Experimentos com animais vivos conhecem, mundialmente, forte oposição. No Brasil, cresce a resistência aos rodeios.

Ainda que, por vezes, atitudes desse tipo se traduzam em intolerância, puritanismo e exagero, não seria equivocado dizer que refletem uma tendência geral no rumo de uma maior sensibilidade diante do sofrimento e da violência.

Das sessões públicas de tortura em criminosos condenados, tidas como normais no século 18, até a repulsa que hoje inspira, em parcelas crescentes da população, o mero consumo de alimentos de origem animal, um caminho civilizacional se fez.

Mesmo no boxe, que também repugna a muitos, tratou-se, por exemplo, de separar os lutadores tão logo se comprova a evidência de um nocaute, evitando a cena ignóbil do vencedor golpeando repetidas vezes o adversário já caído.

Foi precisamente uma cena destas -repetida à saciedade em qualquer horário- o que se viu na recente disputa pelo título de campeão dos pesos-pesados do UFC (Ultimate Fighting Championship).

Não bastasse a extrema violência dessa espécie de vale-tudo, que atrai legiões de entusiastas no Brasil, a narração do espetáculo, transmitido pela TV Globo, ocasionou momentos de paroxismo emocional na voz de Galvão Bueno. “Um, dois, três, quatro”, vibrava o locutor, contando os golpes que selaram a sorte do norte-americano que cedia o título de sua categoria a um brasileiro.

Fonte:Folha de São Paulo – Opinião
Como não ver com estranheza, e até com aversão, um espetáculo que diz mais sobre o Brasil do Bope, da tortura nas delegacias, do tráfico e das milícias do que sobre o Brasil ameno, simpático e charmoso do jogador Neymar ou da modelo Gisele Bündchen?

Há gosto para tudo, bem se sabe. São Paulo candidata-se, por exemplo, a reunir 70 mil pessoas num estádio, no ano que vem, para uma disputa da categoria.

A liberdade de noticiar até justifica que, em horários livres para todas as idades, fossem televisionadas cenas hediondas de uma luta. Mas um mínimo de sensibilidade e autorregulação viria a calhar. São os “gladiadores do século 21”, segundo o narrador da Globo. Sem dúvida: é o século 21 -mas naquilo que tem de mais primitivo e troglodita.

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